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Um novo ciclo… Hypnerotomachia Poliphili (I)

16/07/2009

dancer

A história, resumida, que me proponho contar a partir de hoje, e ao longo dos próximos tempos…, foi escrita  supostamente por um monge dominicano de nome Francesco Colonna, e publicada em Veneza no ano de 1499, sob o título de “Hypnerotomachia Poliphili” . 

 Apenas uma dúzia de exemplares se encontram ainda espalhados pelo mundo, alguns guardados em segredo por se terem tornado objectos de grande valor. Esta valorização advém não só da sua raridade, como também da sua beleza enquanto objecto de contemplação e admiração : para lá do sentido enigmático e bizarro do seu longo texto, está a qualidade da encadernação, da impressão, tipografia e claro, das maravilhosas 170 gravuras sobre madeira, de autor desconhecido.

capa HP2

As gravuras ajudam figurativamente à compreensão do texto, que é bastante denso e se torna frequentemente incompreensível por ser composto por uma teia de trechos sobre assuntos tão variados como a música, a literatura e a arquitectura inseridos na narrativa das aventuras de Poliphilo que, num sonho, parte em busca da ninfa Polia. Cenas mitológicas, eróticas e misteriosas desenrolam-se em diversos cenários, entre os quais labirintos e bosques. A diversidade de assuntos tratados nesta obra  indicam um amor pela variedade e a procura incessante da mesma. As constantes alusões temáticas, figurativas e etimológicas  às Antiguidades grega e romana são características da época renascentista. O texto está escrito em italiano, com palavras em (ou derivadas do) hebraico, latim, grego, árabe e mesmo algumas inventadas pelo autor. (ver)

A obra está dividida em duas partes, a primeira das quais organizada em vinte e quatro capítulos, e é mais interessante. Conta a história na primeira pessoa da procura de Polia o nome mais antigo de Atenas, a Sapiência Divina; e também “muito /muitas” – por Poliphilo – literalmente “aquele (philos, o filósofo) que ama Polia” , aquele que ama muitas coisas, aquele que ama a Sabedoria  –  a sua amada, e da viagem conjunta que empreenderam até à ilha de Citera , governada pela deusa Vénus, num percurso em cinco etapas semeadas de provações. É estabelecida uma analogia entre o caminho de purificação interior do protagonista, inspirado pela imagem da amada, com o meio ambiente que vai percorrendo, que se vai transformando de acordo com os seus estados de alma. 

Hypnerotomachia  é uma das palavras inventadas pelo autor, a partir das palavras gregas para sono (hypnos), amor (eros) e combate ou contenda (machè), cuja tradução ficou como O combate do Amor num Sonho. Os 38 capítulos das duas partes são encabeçados por letras decorativas iniciais que, em conjunto, formam o acróstico “POLIAM FRATER FRANCISCUS COLUMNA PERAMAVIT” (“Irmão Francisco Colonna amou muito Polia”), e que constituiu o indício da autoria desta obra.

Para passar as páginas do HP clicar no livro livro HP

  

 CAPÍTULO I : Poliphilo entra no Bosque

p011

A procura de Poliphilo inicia-se de madrugada, após ter passado uma noite sem dormir agonizando com o seu amor não correspondido por Polia. Ele adormece e imediatamente acorda num denso bosque, tal como aquele onde Dante inicia a aventura da sua Divina Comédia.

Á medida que tenta encontrar a saída, rasgando as roupas em roseiras e espinhos, imagina as criaturas selvagens que aí se podem esconder.

                                      HP1

                                                                                                      (continua)

(estes textos foram adaptados das obras de Joscelyn Godwin e Teoria da Arquitectura, edit. Taschen)

20 comentários leave one →
  1. 16/07/2009 17:15

    Muito obrigado pela sua participação, que na verdade abrilhantam muito a derradeira rodada da tertúlia!

    • 17/07/2009 20:18

      Obrigado mais uma vez pelo seu apreço. Foi sempre com muito gosto que participei, procurando de algum modo estar à altura.
      Espero que o novo desafio seja também tão entusiasmante e até caloroso como a Tertúlia.
      Um abraço

  2. 16/07/2009 21:58

    Marialynce, que coisa maravilhosa você está nos preparando. O livro em si já é incrível pela sua raridade, pelas suas ilustrações que você tão bem descreveu, pelo mistério que envolve sua criação. E a história que você vai nos descrever também, promete ser cheia de aventuras tanto “exteriores” quanto interiores. E este widget que nos permite ver as páginas do livro também é genial, parece que estamos penetrando na edição original.
    A Tertúlia acabou mas você começa um novo ciclo com esta magnífica novidade. Viva a blogosfera!
    Um grande beijo para você.

    • 17/07/2009 20:25

      Sabia que eu fico nervosa só de pensar em fazer os posts sobre o HP ? Pois é mesmo. Para mim também é um desafio.
      Espero conseguir dar a conhecer razoávelmente esta história com os meios ao meu alcance e os limites de disponibilidade sempre inevitávelmente presentes… Sei que pelo menos a Maria Augusta vai estar atenta!
      Um grande beijo também.

  3. 17/07/2009 20:59

    bela sua participação nesta derradeira tertulia, mais fica a amizade e carinho que ela proporcionou a todos nós…
    vamos aguardar os novoa projetos dos amigos edu e jorge.

    bjocas

    tbm participo

    • 17/07/2009 21:53

      Obrigada Ivany, realmente termina a Tertúlia mas ficam aqueles amigos que ao longo de um ano participaram uma grande experiência em comum. agora é tempo de renovação!
      Beijos

  4. 18/07/2009 02:11

    Cheguei aqui através de sugestão da Maria Augusta. Parabéns o seu blog é mesmo muito lindo e a postagem ótima, voltarei outras vezes!

    • 19/07/2009 22:38

      Obrigada pela sua visita! Espero realmente que este espaço possa continuar a interessá-lo!

  5. 18/07/2009 03:26

    Olá Marialynce.

    Cheguei aqui pela indicação que a Maria Augusta fez e o que encontro é simplesmente de valor indiscutível.
    Parabéns, tua postagem é magnifica…acho que tenho muito o que aprender aqui.

    Fez a sua última participação na TV com o inicio de uma linda história que quero acompanhar até o final.

    Obrigada pelo presente, mas agora vou procurar as antigas participações que fez na TV…tenho certeza que terei boas suspresas.

    beijos,

    • 19/07/2009 22:43

      Selena, a Maria Augusta é demais. A história é surpreendente e bem longa…. espero que goste!
      até breve

  6. 19/07/2009 09:57

    Olá!
    Aqui quem fala é o Murilo, dos blogs Palavras de Osho e Os nascimentos das palavras.
    Assim como você e dezenas e dezenas de outros amigos blogueiros, eu participava das blogagens coletivas do Tertúlia Virtual, belíssimo projeto de promoção de blogagens coletivas que infelizmente chegou ao fim em julho de 2009.
    Para mim, a inicitativa do Tertúlia foi responsável pela realização de muitas das melhores blogagens coletivas da blogosfera em língua portuguesa.
    A idéia de a cada mês reunir blogueiros em torno de um tema foi tão bem-sucedida que não podemos deixá-la morrer.
    Para colaborar, lancei o Vou de coletivo!
    Todo dia primeiro do mês será proposto um tema para ser abordado por blogueiros por meio de textos, imagens, vídeos e o que mais a criatividade permitir.
    Assim que o tema do mês é apresentado, é aberta uma lista de inscrições. Basta você inscrever sua postagem que automaticamente será inserido um link para ela na relação de participantes. As inscrições ficam abertas o mês todo.
    E você, gostou da idéia? Espero que sim!
    Então não vamos perder o embalo. Logo sai o primeiro coletivo de 2009! Clique aqui e acesse o Vou de coletivo!
    Abração!

  7. Guilherme Osellame permalink
    18/10/2009 14:38

    Gostei muito do texto. O Hypnerotomachia é um dos livros mais raros do mundo, e um dos mais dificeis de conpreender. Estou lendo “O ENIGMA DO QUATRO”, e me deparei com um pouco da historia desse livro. As gravuras que aparecem no meu livro com referencia a o Hypnerotomachia, sao orripilantes.
    A linguagem que este livro abrange é muito diversivicada, com com textos escritos em criptografia, e enigmas dificeis de se resolver.Um outro enigma que achei importante de comentar é a cripta secreta de Francesco Colonna, que fica em Roma.
    Procurei pela internet inteira, e achei bem pouco sobre o que eu queria saber sobre o livro, mas aqui achei tudo. Meus sinceros parabens. Espero que mantenhamos contato, para discutir nossa experiencia no Hypnerotomachia, e tambem aprender mais um pouco um com o outro.Obrigado.

    • 22/10/2009 01:20

      Guilherme,
      Obrigada pelas suas palavras. Realmente o Hypnerotomachia é um livro fascinante, cheio de mistérios. Também foi através da leitura do “Regra de Quatro” que tomei um conhecimento mais aprofundado da obra, de que só conhecia vagas referências. Aí despertou-me a curiosidade de saber mais e fui também investigar, o que , é claro, ainda não terminou. Mas então, para além de me ter inspirado a criar este blog, agora resolvi tentar contar a história do protagonista Poliphilo, a partir da tradução em inglês. O problema é que a história é complexa, com muitas descrições detalhadas e exige o conhecimento da mitologia greco-romana. E cada vez estou a ficar com mais vontade de a contar!… Já publiquei no blog os quatro primeiros capítulos (pode encontrá-los fácilmente no sidebar).
      Será com muito gosto que trocarei opiniões e informações sobre o livro.
      Até à próxima.

  8. Isabel permalink
    27/11/2009 15:11

    Adorei aprender tantas coisas novas no seu Blog. Obrigada pela generosidade em compartilhar seu conhecimento. Jamais ouvira falar em Hypnerotomachia, no monge Francesco, e tantas outras coisas. Vou voltar prá continuar lendo o livro.
    Abç, Isabel.

    • 27/11/2009 20:46

      Ainda bem que gostou, é uma história fantástica. Obrigada pelas suas palavras e espero que volte mais vezes!

      Abraços!

  9. 02/06/2010 13:05

    Veja que coicidência, dois anos antes da morte do Mindlin, o Prof. Stephen escreveu-me a seguinte carta: ” Olá caríssimos, como estão? Cá, estamos na medida exata da boa ventura. Adoramos vossa carta, as fotos e principalmente as canções nos enviadas. Somos gratos pela fraternidade e carinho. Chove fininho em Lisboa e, Miracel e Liége dançam quase sem parar, ao que parece horas, as gravações do Cordel do Fogo Encantado e do Mestre Elomar com suas cantorias telúricas; nestes momentos lembramos sempre do Brasil e de todos que aí estão nesta soberba terra. Eu com um velho walk-man K7, contraponho em meus reclusos e envelhecidos ouvidos a suave “Auf Flugelm des Gesanges” de Mendelssohn, alguns alegros de Haydn e incansavelmente o Tanhauser. (…) Mando-te obra completa do Pessoa, em excelente edição lusitana. E te enciúme, irmão-rato que me disseste que és, encontrei uma edição raríssima de nada menos que a Hypnerotomachia Poliphili, atribuída incertamente ao dominicano Francesco Colonna (1433-1527), e pasme! Edição veneziana de 1499, primorosa em gravuras oníricas e que, soube através de um amigo, somente eu e José Mindlin o possuímos nas Américas. Garimpava zeloso num sebo em Amsterdã, e eis. Cheguei a estremecer ao tocá-lo. E mais feliz ainda regozijou minha alma quando percebi que, o pequerrucho e avermelhado irlandês, proprietário da espelunca, desconhecia em absoluto a preciosidade daquele compêndio. Comprei-o à custa de um paciente mas ditoso regateio. Vivas! Vivas! Entretanto, terminei por sabotar nesta empreitada a posse de um excelente Ovídio, patente: por puro desmantelo do pecúlio”. Sensacional não? (saiba mais no circosolartextos).

    • 29/06/2010 17:10

      A referida carta do Prof. Stphen Fly para este humilde escriba e presente no compênndio “O Sol, o Tempo e o Silêncio”, pode ser encontrado no endereço: danicircosolar.blogspot.com.

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